Canela só retornará às aulas presenciais se houver determinação do Estado. Essa é a decisão da Administração Municipal após uma videoconferência organizada pela Famurs, na manhã desta terça-feira (25). Do encontro, participaram membros do Governo do Estado, do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado, além de vários prefeitos gaúchos.
Foi especialmente convidado o enfermeiro Wanderson Oliveira, doutor em Epidemiologia e que integrava o Ministério da Saúde até abril deste ano. Ele detalhou um estudo feito em países europeus onde houve retorno às aulas com a diminuição de contaminados pela covid-19. “Temos realidades muito distintas. O debate tem que estar centrado na mitigação de riscos. Nós não recomendamos o retorno quando a curva [de contágio] está em ascensão”, ponderou Oliveira.
Apesar de demonstrar aspectos positivos da reabertura às aulas presenciais na Europa, Oliveira mostrou-se a par da realidade nacional. Para ele, o setor público e o privado devem ter oportunidade de voltar juntos, mas são os pais quem devem decidir pelo retorno, e não o Estado.
Quanto ao posicionamento dos pais, Canela está respaldado em recente pesquisa na qual quase 90% dos entrevistados afirmaram que não autorizariam os filhos a retornar às escolas neste momento, em virtude da insegurança quanto aos rumos da pandemia. “Nós não vamos tomar uma decisão enquanto não houver definição do Estado”, diz a secretária interina de Educação, Esporte e Lazer de Canela, Janete da Silva Santos.
Na reunião, a grande maioria dos prefeitos foi ao encontro da opinião da Administração Municipal de Canela, o que levou o Governo do Estado, por meio do secretário de Educação Faisal Karam, a abortar a pretensão de reinício das aulas no próximo dia 31. Com isso, outra proposta será construída para uma eventual volta em setembro.
RAZÕES DE CANELA
Atualmente, Canela tem investido altíssimos valores para manter os trabalhos da Secretaria Municipal de Saúde e do Hospital de Caridade, sob intervenção municipal há mais de um ano. Só a tenda anexa à casa de saúde, específica para atendimento de pacientes com sintomas gripais e que funciona 24 horas, resultou em gastos de mais de R$ 330 mil neste mês agosto.
Com as escolas fechadas, a Secretaria de Educação, Esporte e Lazer conseguiu enxugar cerca de R$ 2 milhões em custos que foram revertidos à Saúde. Recursos da Educação, assim como das demais do governo, mais ajustes do governo e verbas federais, serviram para manter os trabalhos contra a pandemia. Com a reabertura e a necessidade de custear as escolas, haveria o risco de se comprometer as finanças, já que os recursos, ao serem aplicados pela Educação, não seriam mais destinados à Saúde.
Os eventuais gastos com a abertura das escolas, enquanto a situação não está sob controle, seriam um temor para a Administração Municipal, visto que muitos professores e servidores não retornariam ao trabalho por serem do grupo de risco. Além de servidores emergenciais para substituí-los, haveria necessidade de mais serviços-gerais nas escolas, pois os protocolos de segurança exigiriam limpeza e higienização constantes – e o problema é que a lei eleitoral, neste ano de eleições municipais, veda esse tipo de contratação.
Por fim, o modelo de distanciamento controlado proposto pelo Estado também é outro entrave. Isso porque o retorno às aulas presenciais só seria permitido nas bandeiras amarela e laranja. “Se voltarmos à bandeira vermelha em alguma semana, teremos que parar de novo e depois recomeçar, o que demanda uma logística e um desgaste enorme”, comenta a secretária interina de Educação, Esporte e Lazer Janete da Silva Santos.