Muitas vezes o Brasileirão 2020 foi considerado um campeonato que “ninguém queria ganhar”. Flamengo não aproveitou nenhuma das chances que teve de assumir a ponta, Internacional estava em alta e perdeu seu treinador e até o São Paulo conseguiu se desfazer de uma vantagem incrível de 7 pontos isolados na liderança. Mas se antes ninguém fazia o necessário para vencer, agora Flamengo e Inter chegam com tudo para a reta final do campeonato mais disputado da era dos pontos corridos.
Como chegamos a este ponto? Antes de analisarmos mais a fundo os estilos e caminhos de cada um, devemos lembrar que ambos trocaram de treinador durante a temporada e, curiosamente, ambos estrearam na competição na mesma rodada (21°) e possuem exatamente o mesmo aproveitamento no Brasileirão (68,7%) e, apesar de tantas semelhanças, se encontram em cenários e estilos de jogo completamente diferentes.
Flamengo de Rogério
Ceni chegou ao time rubro-negro com muita expectativa por conta da torcida e do elenco. Era uma aposta, afinal, não tinha treinado nenhum time grande com sucesso. Tinha a difícil missão de classificar o Flamengo nas semifinais da Copa do Brasil e de passar para as quartas de final na Libertadores, além de brigar pelo título dos pontos corridos. Em seu primeiro jogo a mudança foi visível: um Flamengo completamente agressivo, controlando o jogo praticamente sem dar espaços ao adversário. O problema foi que essas características não se mantiveram na sequência e o time carioca acabou eliminado de ambas competições de mata-mata.
Com muita pressão, chegou a ter sua demissão cogitada após perder pontos importantes também no Brasileirão, mas após ser muito criticado por ideias impopulares, conseguiu encaixar o time e já completa cinco jogos de invencibilidade com quatro vitórias nesse período.
O Flamengo de Rogério joga de forma ofensiva, buscando o controle da partida a partir da posse de bola e pressão pós-perda. Busca uma saída de bola limpa, cujo o formato pode variar conforme o adversário (apesar de normalmente usar Filipe Luis e dois zagueiros, com o Isla em profundidade). É disparado o time que mais cria chances de gols, mas a forma que perde essas chances é desproporcional. Flamengo já perdeu mais de 80 chances claras de gols, mais que o dobro de qualquer outro time do campeonato. O Flamengo também possuí uma deficiência de deixar espaços entre os blocos de marcação e realizar as recomposições (tanto ofensivas quanto defensivas) de forma lenta.
Inter de Abel
Se Rogério chegou como aposta no Flamengo, Abel foi o contrário no Internacional. Dispensa apresentações. O único problema de sua contratação na época, foi que o ídolo colorado foi usado como escudo para proteger a diretoria que não conseguiu manter Coudet, que vinha fazendo um ótimo trabalho. Nada justificava a contratação do Abel após seus trabalhos mais recentes: péssimas passagens por Flamengo, Vasco e Cruzeiro, marcadas por uma passividade e conformismo perante resultados ruins. Porém, retornar ao clube onde já foi tão vitorioso, com todo o carinho da torcida e sem expectativas alguma em relação ao seu trabalho era exatamente o que Abel precisava para se reencontrar no mundo do futebol.
Claro que também oscilou no começo. Não conseguiu passar do fraco Boca Juniors na Libertadores e, após uma sequência ruim de resultados no Brasileirão, muitos já não consideravam mais o colorado na briga pelo título. Após uma série absurda de nove vitórias seguidas (27 pontos conquistados) o Inter de Abel se tornou líder e é o grande favorito para levantar a taça.
Foi preciso realizar uma grande mudança para voltar a competir. Sem algumas estrelas do time de Coudet (Guerrero, Boschilla e Saraiva, todos lesionados) Abel precisou mudar o estilo de jogo. Antes, o time atacava e pressionava como ninguém. Com Abel, o Inter adotou uma postura reativa, jogando com menos posse de bola que o adversário, caprichando nos blocos de marcação e saindo com muita velocidade e eficiência nos contra-ataques. Eficiência, que é a palavra-chave desse time. O Internacional precisa realizar apenas 5 finalizações para marcar um gol, enquanto precisa sofrer quase 9 chutes para tomar um gol.
Ao mesmo tempo, existem consequências desse modelo tático. O Inter possuí uma dificuldade muito grande de propor o jogo, não se sentindo muito confortável em conduzir a bola com tempo e criar jogadas. Caso fique atrás no placar, isso pode atrapalhar muito a busca por uma virada, como aconteceu contra o Sport. Muitos cruzamentos desesperados e pouca bola trabalhada diante de um adversário fraco, mas que bastou se fechar.
Para o duelo, Flamengo deve ir com força máxima, com exceção do goleiro Hugo, já que Diego Alves está machucado. Vale ressaltar que Gabigol e Arrascaeta saíram de campo domingo sentindo dores no joelho e no tornozelo (respectivamente), mas devem estar devidamente recuperados para o confronto de domingo.
Já o Inter conta com o retorno de Patrick ao time titular, mas precisará entrar em campo com uma dupla de zaga reserva, já que Moledo está lesionado e Cuesta tomou o terceiro cartão amarelo contra o Vasco (em um lance de pênalti ridículo).
O que vai acontecer, ninguém consegue afirmar. O que se sabe é que os estilos de jogo se encaixam e tudo indica que será no máximo da emoção. Se o Inter ganhar, é campeão no Maracanã; em caso de empate ou vitória do Flamengo, a decisão ocorrerá na última rodada.